DISMICO COM CHUTADA NA PONTA
23/09/2013 20:15 h
Marcel de Souza
marcel@databasket.com
Administração
Administração
Não tem jeito, por mais que eu tente
evitar, sou obrigado a comparar o vôlei e sua fabulosa evolução ao que tem
acontecido nos últimos anos no nosso basquete.
Razões familiares e esportivas me
transformaram numa testemunha muito próxima da história quase recente desse
esporte, que foi criado (vejam vocês) a partir de uma câmara de bola de
basquete.
Muitas vezes fiquei numa arquibancada
vazia assistindo aos treinos da seleção feminina de vôlei. Levava todos os
jornais disponíveis da época e os lia duas vezes (classificados inclusive) pra
depois de quatro horas de treino ouvir o técnico dizer:
“Muito bem, agora vamos fazer cinco
sets pra encerrar”
Um martírio, pois não eram esses sets
como hoje, onde a bola caiu é ponto. Tinha rodízio...
Aquelas meninas treinavam tanto, mas
tanto e (no entanto) os resultados não vinham.
No masculino era a mesma coisa e olha
que eles tentaram de tudo, de técnico chinês, japonês, até neolinguística e
nada.
Até que duas coisas aconteceram.
O masculino foi vice-campeão olímpico
e mundial e desencadeou uma série de vitórias que culminaram com o título
olímpico de 92.
Aqui nem dá pra falar muito, o
super-técnico Bebeto (que já jogou vôlei com o Wilt Chamberlain) pegou uma
geração abençoada e lançou as sementes de um novo jogo.
Quero lembrar do feminino, que era
mais minha praia, onde foi decidido (a partir de 88) ser melhor
investir esforços de treinamento numa
levantadora de estatura mais alta do que insistir numa baixinha talentosa.
A razão era simples: quando a
baixinha entrava na rede o ataque adversário vinha todo “por cima” dela e abria
uma vantagem, que comprometia todo o trabalho realizado.
O fato é que mudaram a posição da
Fernanda Venturini de meio para levantadora e eu não preciso lhes contar o fim
dessa história.
Daí, no basquete resolveram fazer a
mesma coisa. Algum cientista de foguete brasileiro lançou a ideia de investir
esforços apenas em jogadores com mais de dois metros de altura. “O basquete é
para grandões”, diziam.
Não fosse o Zé Cláudio, essa ideia
iria vingar e talvez estivéssemos numa barca furada ainda maior, porque não é a
altura que determina o valor esportivo de um basqueteiro, mas sim o binômio
força-velocidade aliado ao treinamento apropriado e ao modo de encarar treinos
e jogos (sobre os quais passarei a discorrer).
Pois bem, acabamos de assistir a um
dos melhores campeonatos dos últimos tempos e a impressão que me fica é que
precisamos de alguma “sacada” (desculpem-me o trocadilho) para reverter a nossa
situação técnica e inseri-la num cenário onde a equipe campeã força o
adversário a arremessar apenas 54 bolas em 40 minutos, a maioria delas forçada
e fora da sincronia da equipe.
Vi nesse europeu de seleções, que
todo mundo joga assim: a preocupação principal é com a defesa e sinceramente
não creio que estejamos preparados (física e emocionalmente) hoje para essa
interpretação do jogo de basquete.
O pessoal até reclama com o juiz, mas
nem o jogador reclamante muito menos sua senhoria parecem ser afetados por essa
reclamação e o jogo segue com a mesma intensidade.
O pessoal “desce o cacete” uns nos
outros principalmente dentro do garrafão e na briga por posições, ninguém quer
partir “pra mão” depois de uma falta mais ríspida, mas continuam a jogar como
se isso fizesse parte do jogo (na verdade, acho que agora faz).
O ataque virou um detalhe, vale
qualquer coisa desde que o time não perca o sincronismo, nem que o jogador
arremesse forçado, pois isso desequilibra a defesa e provoca cesta fácil para o
adversário.
Deu até pra ver o “pepino” do Mical
(anos 80) e a “ponte área” que o Carioquinha fazia primeiro com o Zé Geraldo e
depois com o Oscar e comigo nos anos 70 e 80. O negócio agora é defender até morrer
e definitivamente não estamos preparados pra isso.
Se nós temos que mudar alguma coisa
no nosso jogo (que tecnicamente não fica a dever nadinha pra essa turma) é
justamente essa atitude defensiva e esse gogó de que “qualquer coisinha é falta
em mim” e que “eu nunca faço falta” a que estamos habituados em todos os níveis
de competição no Brasil.
O que vemos por aqui (em jogos e
treinos) é um jogo de poder, onde a competência é mascarada pela complacência,
a hierarquia técnica é deixada de lado em benefício da hierarquia política e
abrimos mão da proficiência técnica para fazermos o que é mais fácil, ou seja,
jogar no grito, no gogó e no “cê sabe com quem tá falando?” de jogadores,
técnicos, juízes e dirigentes do nosso basquete.
Morte ao Rei!
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