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domingo, 22 de setembro de 2013

Não finja que não Viu - de Marcel de Souza

Marcel de Souza
marcel@databasket.com
Administração


“Não finja que não viu” estava escrito no estacionamento da academia de Personal traine do Prof. Alexandre Moreira quando fui conversar com ele para convidá-lo a participar do projeto do time de basquete de Guarulhos em 1994.
O Professor me foi apresentado por uma amiga comum, Paulinha Arcuri, porque ela percebeu que ele e eu éramos parecidos em muitos aspectos e nos colocou em contato, o qual mantemos até hoje.
Ele atualmente encontra-se na Austrália fazendo mais um curso de especialização, mas me recordo da época em que passávamos horas a discutir o futuro do nosso basquete (quem não fez isso?) e a lhe propor soluções e alternativas, que jamais foram colocadas em prática numa equipe de tão alto nível quanto a nossa seleção brasileira.
Pois bem, cheguei lá pra conversar e vi aquela placa, endereçada a pessoas que insistiam em estacionar seus carros na área destinada aos alunos que iam treinar com o Professor e sua esposa.
Percebi a franqueza da mesma, que já revelava o caráter do meu futuro companheiro de desventuras basqueteiras, mas que mostrava a nossa falta de disposição em “colocar pra baixo do tapete” as inconformidades do nosso basquete, as quais iniciaríamos a combater mostrando os equívocos dos métodos de treinamento da época e a propor soluções que, ao nosso ver (e que nunca foram aplicadas naquele nível, insisto) colocariam o basquete brasileiro de volta ao lugar a que estávamos habituados e ao qual jamais retornou.
Portanto, não podemos fingir que não vimos a abissal diferença de estilo, intensidade e interpretação de jogo existente entre o basquete praticado na Copa América 2013 e aquele visto na sua correspondente europeia, que termina nesse domingo.
 Se você já assistiu a pelo menos 100 jogos de basquete de qualquer nível certamente entenderá que o basquete praticado nas Américas (a exceção dos Estados Unidos), se comparado ao basquete europeu, não passa de um jogo periférico, inócuo (infantil, até) praticamente ausente de agonismo e intensidade competitiva, baseado em passar a bola e fazer um corta-luz na esperança de isolar dois jogadores para um pick-and-roll que, levado àquela realidade, será massacrado por uma defesa asfixiante e um ritmo de jogo totalmente fora de propósito para o nosso nível.
Não vejo uma seleção que disputou a Copa América, que sobrevivesse ao terceiro quarto de uma partida contra qualquer uma das classificadas europeias para o próximo campeonato mundial.
Então, não finja que não viu a briga dentro do garrafão pelos rebotes e pela posição ofensiva, nem as defesas que provocavam erros em profusão de ambos os lados, muito menos os sistemas ofensivos baseados no talento individual dentro de uma noção clara coletiva ou mesmo a disponibilidade dos jogadores em entregarem seu ego esportivo em benefício de uma consciência coletiva jamais vistos (em ninguém) na Copa América.
Aliando essa realidade à nossa, não adianta comprarmos a vaga, fazermos política para o tão desejado convite, se não pensarmos que recentemente jogamos um basquete privo de sucesso, num campeonato onde os melhores classificados não mostraram preparo algum em comparação ao que estamos vendo na Europa.
O basquete brasileiro não pode se esquecer do que aconteceu na Venezuela e continuar a acreditar nos mesmos mitos, nas vitórias de antanho e nas mesmas atitudes, repetindo com sua teimosia gerencial os equívocos do passado recente.
É preciso tirar dali lições e mudanças sérias em toda a estrutura do basquete brasileiro, ainda patriarcal, cartorial e provinciana quando colocada em confronto com a estrutura técnico administrativa do basquete mundial.
Os jogadores da nossa seleção não merecem tal tratamento.

Morte ao Rei!

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